terça-feira, 29 de julho de 2008

Sensei Shikanai em Israel

Alguns vídeos do Shihan Ichitami Shikanai em um seminário realizado este ano em Israel. Vídeos do Sensei Shikanai na net é coisa muito rara, portanto, aproveitem.....








terça-feira, 15 de julho de 2008

Segredos do Budo





Um dia, um samurai, grande Mestre de sabrequis obter o verdadeiro espírito da esgrima. Era durante a época Tokugawa. À meia noite, foi a um santuário de Kamakura, subiu os numerosos degraus que levam até lá e rendeu homenagem ao Deus local, Hachinam. Hachinam, no Japão, é um grande Bodhisattva que se tornou o protetor do Budo. O Samurai rendeu-lhe homenagem. Ao descer os degraus, a meia noite, ele sentiu, debaixo de uma grande árvore, a presença de um monstro em frente dele. Por intuição, ele desembainhou o seu sabre e num instante matou o monstro. O sangue jorrou e derramou-se pelo chão. Ele matou-o inconscientemente.

O Bodhisattva Hachinam não lhe deu o segredo do Budo. Mas graças a esta experiência, no caminho de regresso, ele compreendeu-o. A intuição e a acção devem surgir simultâneamente. Não pode haver pensamento na prática do Budo. Não há um só segundo para pensar. Quando agimos, a intensão e a ação devem ser simultâneos. Se dissermos : " O monstro está ali, como matá-lo? ", se hesitamos, só o cérebro frontal entra em ação. Ora, o cérebro Thalamus (cérebro profundo) e ação devem coincidir, no mesmo instante, idênticos.

Assim como o reflexo da Lua sobre um curso d'água, não fica imóvel, se bem que a Lua não se mexa. É a consciência Hishiryo.

texto retirado do blog: http://alexdacosta.blogspot.com/

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Origami




O incrível trabalho do origamista Hojyo Takashi!

O origami, assim como outras artes japonesas como o shodo (Caligrafia), Ikebana, Budo, etc... também é utilizado como uma forma de chegar a iluminação. Em todas estas atividades, o artista japonês procura a ligação com o divino através do processo criativo.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Fudoshin e Zanshin: Elementos Psicológicos do Budo


por Brett Denison
Tradução - Jaqueline Sá Freire (Instituto Takemussu - Hikari Dojo – Rio de Janeiro)

Fudoshin é um dos princípios do budo e se refere a um estado mental que é impenetrável e imóvel. Neste caso, “imóvel” requer algumas explicações, pois é usado no contexto filosófico japonês e assim tem um sentido mais elevado do que se esperaria ao associar ao significado da palavra em outra língua. Fudoshin não indica um estado mental inflexível, mas, sim, aponta para uma condição mental que não é facilmente transtornada por pensamentos internos ou por fatores externos. “Esta mente que permanece não agitada e calma é imperturbável, não apegada e livre... é a mente máxima do mestre, adquirida apenas através de rigoroso treinamento, e igualmente rigorosa investigação da mente e pelo forjar do espírito (seishin tanren, em japonês) através da confrontação e vitória sobre nossos próprios medos e fraquezas” Fudoshin é diretamente relacionado com outro conceito Japonês conhecido como zanshin, ou "mente continua".

O Zanshin se refere a um estado de constante e contínua atenção ou estado de alerta. O Zanshin se aplica a sua atenção ao mundo à sua volta. Você percebe as pessoas à sua volta, como elas se movem, como ficam de pé, o que há em seus olhos, porque você precisa estar preparado para interagir com elas. Você está presente neste momento. Uma grande parte do reigi, ou "métodos de respeito" no budo, particularmente as reverências (de pé e na posição sentada) e outras formas de etiqueta foram criadas com o zanshin em mente. Em um contexto marcial, imobilidade e continuidade se referem a um estado de alerta mental em que a mente não está fixada em coisa alguma. Como a mente é receptiva e atenta, mesmo que não fixada conscientemente em alguma coisa em particular, não existem pontos fracos mentais ou suki ("brechas"). Os conceitos espirituais japoneses podem ser um “quebra-cabeças” e normalmente são conectados como parte de vários conceitos. Por isso, explicarei mais detalhadamente.

Se eu tenho tres objetos na minha frente e enfoco minha atenção em só um, minha concentração estará afastada dos outros dois. E assim, em relação aos outros dois objetos, eu criei um suki, ou uma ausência de foco. Se qualquer um destes objetos fosse um atacante, eu estaria completamente vulnerável. Mas se você disser, ok, tudo o que temos que fazer é focalizar todos eles, você estaria parcialmente certo. Mas, como com tudo o que é japonês, não é tão simples. O segredo escondido é que devemos focalizar todos eles sem focalizar nenhum deles. Às vezes isso é chamado de mushin, ou "não mente". Este conceito, que sustenta o do fudoshin, pode ser difícil de ser compreendido por ocidentais. A “não mente” se refere a um foco que é mais intuitivo que consciente. Isso significa confiar em seus instintos mais do que se empenhar em um processo consciente de pensamento. Os ocidentais podem chamar isso de “estar na área”. Os japoneses podem chamar isso de “estar no momento presente”.

No budo, criar este estado de confiança intuitiva e maturidade interior requer muitos anos de prática (keiko), em alguns casos a prática de exercícios de respiração meditativa (kokyu ho) e disciplina austera física/espiritual (shugyo). Todos estes elementos, que são parte do budo, lentamente afastam a mente do diálogo mental interno e das censuras (de análise e justificação) e começam a permitir a mente que confie em seus sinais intuitivos ou em sua natureza superior. Em mushin, a mente deixa de ser facilmente perturbada ou reativa em excesso. Ela é fudo ("imóvel") e não são criados suki ("brechas") ou quebras do foco. Este estado é muito claro ao se observar um experiente budoka praticando um kata. Apesar de estar totalmente atento à forma, ele não opera a partir de um processo consciente de pensamento. O kata foi praticado milhares de vezes, e o praticante desenvolveu uma confiança natural em sua habilidade. De certa forma, não há nada para se pensar. Talvez seja um tanto como o slogan da Nike: "Just Do It" (“apenas faça”).

Em resumo, a mente, não estando presa a coisa nenhuma, é forte, concentrada e receptiva a todas as coisas. Certamente Fudoshin não existe somente para as artes marciais. Pelo contrário, esta confiança e calma intuitivas podem ser usadas antes e durante uma reunião importante, em uma entrevista, uma prova, ou em qualquer circunstância em se seja necessária calma e um foco intensificado. Com uma prática consistente e disciplinada, o fudoshin pode se tornar um estado mental natural, confortável e produtivo.

artigo retirado do site htt://www.aikikai.org.br

terça-feira, 8 de julho de 2008

Irimi





Mais do que uma técnica, Irimi é uma postura. O Kanji que o representa significa " Entrar com seu corpo dentro do corpo do adversário".

Meu Sensei Nelson costuma treinar esta entrada, mas sempre enfatiza a postura, mais do que a forma. Ele diz: "O importante é a postura, entrar com decisão, como num duelo real, em que sua vida é decidida em um só lance...". a forma também é importante, mas tenho notado que sua maior preocupação é na postura, ou seja, entrar com decisão. Isto porquê sem a postura, sem o ki apropriado, qualquer forma perde seu sentido.

De fato, este treinamento reflete na nossa vida pessoal. quantas vezes temos que tomar decisões? e como fazemos isso? que postura adotamos? Irimi é entrar com decisão, é se fazer presente, presente na sua vida profissional, na sua vida pessoal. É a postura de enfrentar seus problemas de frente, com decisão e fé! É também enfrentar a si mesmo, com coragem e determinação, porquê nosso maior adversário não está lá fora, mas aqui dentro de nós!

Mais uma vez percebo que, mais do que uma arte marcial, o Aikido é para mim uma filosofia de vida!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Os princípios do Kokyu ryoku - o poder da respiração

Por Gozo Shioda


"Eu disse anteriormente que o poder de foco e concentração determina a maneira pela qual usamos nossa força. Fundamentais para isto são o coração ou espírito, e o ritmo.

Todos estes fatores juntos formam o kokyu ryoku. Por coração, ou espírito, eu quero dizer a habilidade de entrar em um estado de esvaziamento. Este é o poder de concentrar nossos sentimentos, cujo impacto é muito forte. Nós freqüentemente pensamos em fazer alguma coisa desta ou daquela maneira, pois os seres humanos se encontram presos a planos - nós gostamos de planejar e de lembrar das coisas. No budô, é necessário eliminar planos e memórias ,e, ao contrário, nos colocarmos em um estado de esvaziamento. Neste estado todo medo desaparece, a, ansiedade é removida, e nós começamos a realmente perceber nossas habilidades, ganhando cada vez mais confiança em nós mesmos. Resumidamente, este é um estado mental muito sereno.

Neste estágio, nós podemos ler as intenções de nosso oponente, não com nossa cabeça, mas com nosso corpo. Nós podemos sentir como nosso oponente irá atacar. Em outras palavras, nós começamos a nos mover e sentir com o coração.

Outra faceta muito importante do kokyu ryoku é o ritmo. Nós devemos desenvolver o ritmo onkyu (lento e rápido). Por ritmo eu não quero dizer um movimento uniforme e monótono. Ao contrário, o ritmo de nossos movimentos deve se adaptar a uma dada situação. Essencialmente, é nossa respiração que controla nosso ritmo, inspirando ou expirando de acordo com a situação. Quando é necessário inspirar, nós inspiramos. Quando nós devemos expirar, nós expiramos. É isto que regula o ritmo de nossos movimentos. O ritmo é resultado da respiração. Quando o ritmo e a respiração se fundem, nós devemos adicionar shuchu ryoku (o poder da concentração). O verdadeiro kokyu ryoku é atingido quando estes três fatores se unem de maneira a formar uma coisa só. Quando isto acontece, nosso oponente perde a capacidade de resistir e torna-se completamente dependente de nós.

É essencial notar que nós não temos nenhuma intenção especial de fazer o oponente agir desta maneira - isto apenas acontece. Induzir o oponente a um tal estado onde ele se sente compelido a cooperar contrariando seus desejos, sem que ele se aperceba deste estado, é o princípio do kokyu ryoku.

Devemos dizer também que é preciso que nos tornemos inconscientes da existência do oponente para que sejamos capazes de atingir o kokyu ryoku.

O kokyu ryoku não é relacionado a qualquer conjunto de formas. Antigamente, Sensei Ueshiba nunca ensinava em detalhes. O que fosse que nós fizessemos, ele apenas dizia "está bom, está bom". Desta forma, ele nos encorajava a evitarmos de sermos aprisionados pelas formas. O que é importante é nos colocarmos na melhor situação para nós mesmos. Mas mesmo que eu diga isto, eu sei que encontrar a melhor situação é algumas vezes algo muito difícil de ser feito.

O kokyuryoku se origina no esvaziamento. O kokyu ryoku não é algo que descobrimos através de algum treinamento ou exercício especial. A repetição diária das técnicas do Aikido forma a base para atingir-se o kokyu ryoku. Apenas após um treinamento uniforme, dia após dia, você poderá, com sorte, atingir o shingitai, quando o coração, a mente, o corpo e a técnica tornam-se uma coisa só, tornando o kokyu ryoku possível.

Ao invés de dizer que atingimos este estado, é melhor entender que um dia, sem sabermos quando, estaremos usando o kokyu ryoku. Isto pode acontecer inesperadamente, por exemplo, se estivermos diante de uma situação de vida ou morte. Em tal situação, a necessidade urgente de uma reação adequada pode servir como catalisador para o surgimento do kokyu ryoku. Repentinamente algo irá acontecer, e antes que tomemos consciência do que está acontecendo, o oponente estará no chão. Eu constantemente fico surpreso por não entender o que está acontecendo nestes momentos. Mesmo pensando cuidadosamente, eu não consigo definir claramente o que ocorre quando eu estou tomado pelo kokyu ryoku. Isto é o kokyu ryoku. Não é algo que possamos atingir quando quisermos. Na verdade, se estivermos pensando nisto, simplesmente não irá funcionar. Tudo deve ocorrer de forma natural. Qualquer idéia de atingir este estado nos prende a planos que serão de pouca ajuda para atingirmos o kokyu ryoku, e este é um fato que não é fácil de aceitarmos.

Mesmo que tenhamos atingido o kokyu ryoku uma vez, isto não significa que possamos atingi-lo novamente de maneira direta. De fato, tal idéia de repetição irá nos impedir de atingi-lo, e somente eliminando qualquer esforço consciente é que poderemos alcançá-lo novamente. Conforme acumulemos tempo de treinamento, isto nos levará a cruzar a fronteira.

Desta forma, um dia, nós nos tornaremos mestres do kokyu ryoku. É difícil descrever, mas neste exato momento surge uma sensação de êxtase, de imenso prazer, um conjunto de sensações que juntos formam uma experiência maravilhosa.

Esta experiência acontecerá de forma breve e inesperada, proporcionando uma inexplicada sensação de poder e conforto.

Eu acredito que não é possível experimentar este tipo de emoção através de atividades normais da nossa vida. Naquele momento eu posso dizer que perde-se o ego. Freqüentemente no dojo, durante as aulas especiais para alunos avançados, quando eu demonstro algo, eu me encontro em um estado de completo esvaziamento: nada existe naquele momento. Eu não possuo nenhuma intenção de resistir ao meu parceiro, na verdade eu perco a consciência de mim e do meu parceiro e nós nos tornamos um só.

É por isto que quando eu movo minha mão em uma direção, meu parceiro segue meu movimento. Se eu repentinamente mudar a direção, meu parceiro também mudará, todos se movem comigo. Como isto é possível? Eu não sei, mas se podemos atingir o verdadeiro esvaziamento, podemos fazer o impossível.

Isto é algo que eu não posso ensinar, mesmo se me perguntarem. Esta é uma sensação que devemos capturar para nós. Muitas pessoas estudam intensamente diversas técnicas de Aikido, e é muito triste que fiquem presas em um estado de pesquisa e não evoluam mais.

Muitas vezes acontece que por mais esforço que coloquemos em nossa pesquisa, não chegamos a uma conclusão. Nossos pensamentos permanecem turvos. Mesmo quando temos a intuição correta, nós perdemos nossa pureza quando adicionamos nosso pensamento.

O maior de todos os objetivos é aquele que vem de dentro de nós. Desta maneira é muito importante aprender a sentir com nossa pele e nosso corpo. "Torne-se um com a natureza", diria Ueshiba Sensei, e apenas recentemente eu comecei a entender o que ele queria dizer sobre Deus, o Universo, e muitas outras coisas incompreensíveis. Minimamente, agora eu possuo uma noção do que ele dizia."


Gozo Shioda, fundador do estilo de aikido Yoshinkan, começou a treinar em 1932, aos 17 anos. Foi um dos discípulos mais antigos de O´Sensei.