terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ciência e Religião



Lendo a coluna Espiral, de Alysson Muotri, Achei um texto extremamente interessante! O cara é um cientista, e portanto vê o mundo com olhos de cientistas. Mas percebo que neste século a ciência e a religião estão cada vez mais juntas, como dois lados de uma mesma moeda, duas visões da mesma realidade!


Publico a seguir um interessante artigo retirado desta coluna, qualquer semelhança com a visão Zen e o conceito oriental de unidade do cosmos não é mera semelhança....não a meu ver!


"Expresso para o Nirvana
Postado por Alysson Muotri em 06 de Junho de 2008 às 13:10


Jill Bolte Taylor é uma neurocientista da universidade de Harvard, em Boston nos EUA. Jill tem um irmão com esquizofrenia e essa foi a razão pela qual ela decidiu dedicar sua carreira ao estudo de doenças mentais. Como cientista, queria entender como o cérebro consegue captar sinais do ambiente, transformá-los em sonhos e depois em realidade. O irmão de Jill não consegue captar esses sinais da realidade e por isso vive isolado. A pesquisa dela era justamente comparar as diferenças biológicas entre os cérebros normais e os daqueles com doenças neurológicas.

Numa manhã de dezembro de 1996, Jill passou por uma experiência única, que muitos neurocientistas só chegam a conhecer de forma teórica: teve um derrame que a levou direto ao nirvana. Uma veia explodiu no hemisfério esquerdo e durante quatro horas ela acompanhou seu cérebro deteriorar e perder a capacidade de processar qualquer tipo de informação. Não podia falar, andar ou lembrar de qualquer episódio de sua vida. Estava ausente.

O cérebro humano possui dois hemisférios, conectados por um feixe de 300 milhões de fibras nervosas conhecido como corpus caloso. Numa analogia computacional, podemos dizer que o hemisfério direito funciona como um processador paralelo enquanto que o esquerdo funciona como um processador serial. Justamente porque eles processam informação de formas diferentes, cada hemisfério é responsável por tarefas distintas.

O hemisfério direito é responsável pelo visual e intuitivo. Informações que chegam pelos sistemas sensoriais são conectadas e formam uma imagem de um determinado momento. Dessa forma, o hemisfério direito é o responsável pela sua inserção no ambiente. Para essa parte do cérebro, não existe uma definição do “eu”, tudo pertence a um mesmo momento, somos todos a mesma coisa pois estamos juntos naquele mesmo instante.

O hemisfério esquerdo é bem diferente, processa a informação de forma linear e metódica. Considera as ações sempre no passado e no futuro. É o lado do cérebro responsável pela triagem das informações adquiridas no momento presente, classificar cada detalhe, associando com lembranças do passado e projetando as diversas possibilidades no futuro. Ao contrário do hemisfério direito, o esquerdo usa uma linguagem verbal e não visual. Esse hemisfério exclui o indivíduo do resto, pois é o responsável pelas conseqüências das ações do “eu”.

E foi justamente o hemisfério esquerdo o afetado no cérebro de Jill. Depois de sentir uma sensação dolorosa atrás do olho esquerdo, ela começou a perceber que os músculos estavam ficando rígidos. Com esforço, conseguiu chegar no banheiro onde perdeu o equilíbrio e se apoiou na parede. Foi ai que teve uma das mais estranhas sensações, pois não conseguia mais focar nos limites do próprio corpo, como se os átomos do seu braço estivessem se misturando com os átomos da parede. A percepção física do limite de seu braço não era mais o encontro da pele com o ar.

Jill descreve esse momento como se fosse a realização de que tudo está conectado numa mesma massa energética. Seu cérebro pôde apreciar o que estava acontecendo mas sem compreender nada, pois a experiência fugia daquelas do seu dia-a-dia. Momentos mais tarde, ela compararia esse sentimento com o “nirvana”, como se o derrame tivesse sido dado a ela a oportunidade de experienciar algo mágico. Naquele momento, ela perdia toda a bagagem sensorial que carregava desde o nascimento e se sentia livre. Estava viva apenas no presente e em total equilíbrio com o ambiente ao seu redor. Esse sentimento trouxe a ela um respeito maior pelas coisas que a cercam.

Quando você faz parte de um grupo, você respeita isso, para ela o grupo naquele momento era o universo. Imagine se todos tivéssemos essa oportunidade?

Após alguns minutos nesse estado, o hemisfério esquerdo começou a funcionar e chamar a atenção da consciência de Jill: alguma coisa estava errada e ela tinha que agir. Foi aí que perdeu o movimento de um braço e só então percebeu que estava tendo um derrame. Conseguiu então chamar por ajuda e sobreviveu. Uma cirurgia que retirou um coágulo do tamanho de uma bola de golf de seu cérebro seguido de oito anos foram necessários para que se recuperasse.

Esse sentimento de nirvana não faz necessariamente parte da experiência das pessoas que sofrem derrame. Algumas observam alteração no humor quando o lado esquerdo é afetado. Jill foi salva porque o derrame não danificou completamente o hemisfério esquerdo, fazendo com que recuperasse a consciência serial e buscasse por ajuda.

O hemisfério esquerdo é responsável pelo ego, contexto, tempo e lógica; enquanto que o direito se dedica a empatia e criatividade. Na maioria das pessoas, o esquerdo é dominante e a sociedade atual é fruto dessa dominância. Mas para Jill não precisa ser sempre assim, a experiência do nirvana estaria contida dentro do cérebro de cada um, seria uma forma de estabelecer conexões com os outros. Para ela, isso não é um milagre, mas ciência. Desde o episódio, a pesquisadora tem sido contactada por uma série de grupos religiosos que buscam nela uma confirmação espiritual. Mas para ela, religião não passa de uma “história que o hemisfério esquerdo conta para o direito”.

Ou seja, para Jill não precisamos de religião para atingir esse estado. Então como fazemos sem ter que sofrer um derrame? Essa é a grande questão dessa história toda e não sabemos a resposta. A pesquisadora está convencida que exercitar o lado direito com atividades visuais como desenho e pintura, diminui a dominância do lado esquerdo. Interessante notar que diversas linhas de meditação também buscam a imersão no presente através de técnicas de respiração.

Chamo a atenção para a prática de Yoga, diversas evidências descrevem esses exercícios milenares como uma efetiva forma de redução dos níveis de estresse. Mas concordo que isso está longe de propiciar o mesmo sentimento que Jill teve.

Como esse tipo de sensação não dá pra estudarmos em modelos animais, temos que coletar diversas ocorrências em humanos para entender quais as conexões nervosas seriam responsáveis por essa experiência. Enquanto isso não acontece, não custa acrescentar uma nova atividade para quebrar a rotina. Pode não te levar ao nirvana, mas com certeza alguma coisa nova você vai aprender."

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Eixo Estável



"O aprendiz de Aikido deve dedicar a maior parte de seu treinamento ao domínio das técnicas da rotação e estudar o princípio básico implícito através do treinamento constante. No movimento, deve tornar-se como um pião, estável no centro, nunca perdendo o equilíbrio. Mesmo que o aluno não esteja plenamente consciente, a unidade de ki-mente-corpo com o universo terá sido alcançada."
Kisshomaru Ueshiba - O Espírito do Aikido


A medida que treino, percebo a importância do centro estável e firme, dentro das técnicas de Aikido. O Centro estável possui aspectos físicos, psicológicos e espirituais. Dentro da execução das técnicas, percebemos a eficácia dos movimentos em rotação bem centrada e como a condução do uke fica mais fluída. Cada movimento de Aikido pode ser resumido em entrar na esfera do adversário, impondo a sua, e conduzir a energia do seu ataque de forma a eliminar seu ki agressivo. Esta imposição do nosso centro, firme e estável, é algo que vai além da habilidade física... requer uma imposição mental e emocional!

Desde os tempos remotos, os taoístas falavam da importância do centro, ou eixo, como o local do Tao, o vazio....estar no Tao é estar no Eixo. O centro do furacão é onde está a calmaria, o eixo do pião, que gira em alta velocidade, parece imóvel. estar no eixo é estar em sumikiri, o estado de perfeita clareza.

Vejo a filosofia do centro estável como um dos pilares do Aikido, porque só se consegue a harmonia da unificação (Aiki) quando se está centrado. Estar centrado tanto físico como emocionalmente. Estar no centro de uma situação é vermos ela se desenrolar como se não fôssemos afetados pelos acontecimentos. É o verdadeiro estado de Fudoshin, a mente inabalável!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O Zen Nas Artes Marciais



Texto extraído do livro O Zen nas Artes Marciais, de Joe Hyams, Ed. Pensamento.


Meu parceiro e eu praticávamos shomen uti, o primeiro movimento do handori no kata, na prática do Aikido. O exercício exigia de mim, na defesa, que evitasse o golpe direto no rosto movendo-me na direção do braço do agressor e projetando o atacante para trás, ao mesmo tempo em que aplicava-lhe a mão no queixo, usando a meu favor o peso do meu corpo.


Atraquei-me várias vezes com meu parceiro, mas fui incapaz de movê-lo do lugar. No fim, já algo descontrolado, recorri à força física, e ele tombou no tatami. Senti, então um leve toque no ombro; voltando-me dei com a instrutora de cenho franzido.


Disse-me com ar de reprovação: - Você encarou o ataque dele de frente. Por ser forte, você o afastou, mas você não barrou a força dele, nem a intenção dele de atacar.Quando alguém o ataca, está levando você contra você o seu Ki, que começa fluir no momento em que ele decide atacá-lo, ainda antes que o corpo dele se mexa. Você não precisa absolutamente tocar-lhe o corpo, caso possa redirecionar a mente dele e o fluxo do seu ki. Esse é o segredo; afaste a mente dele de você e o corpo irá atrás.


E como posso afastar a mente dele? - perguntei.
Não agredindo o fluxo do seu ki, nem deixando que ele perceba a sua intenção. Não puxe, nem empurre, nem chute. Toque-lhe apenas de leve e gentilmente o corpo, conduzindo-o para onde você quer. Desse modo, a mente dele não é contrariada e o corpo dele cederá.


O princípio subjacente ao Aikido - prosseguiu ela - é o de entregar-se de tal forma à força que se aproxima, que ela se torne incapaz de feri-lo, e ao mesmo tempo mudar-lhe a direção, empurrando-a por trás, em vez de buscar encará-la de frente. O praticante de Aikido nunca vai de encontro à força do oponente. Ao contrário, dá outro rumo à força que vem na sua direção.


"O princípio de evitar a luta e nunca enfrentar diretamente a força de um agressor é a essência do Aikido. Esse mesmo princípio vale para os problemas que a vida nos traz. O praticante habilidoso de Aikido é tão esquivo quanto a verdade do Zen; converte-se num Koan - um quebra-cabeça que nos escapa quanto mais esforço fazemos para resolvê-lo. É como a água que se esvai entre os dedos de quem procura agarrá-la. A água não vacila antes de se entregar, pois no instante em que os dedos começam a se fechar sobre ela, ela escapa - não pela própria força, mas valendo-se da pressão que é aplicada sobre ela. Talvez seja por isso que um dos símbolos do Aikido é a água."


Pouco depois da aula tive a oportunidade de testar parte dos princípios do Aikido que a instrutora me transmitira. Durante um encontro de negócios, percebi que estava prestes a um desentendimento com um associado. Decidido a contorná-lo, se possível, procurei não reagir à investida inicial, fugindo do enfrentamento direto. À medida que a discussão prosseguia, admiti que sua argumentação tinha méritos, e ao mesmo tempo tentei dar outro rumo à sua exaltação. Permitindo que meu "oponente" gastasse sua energia e exaltação, e não respondendo nem lhe retrucando, evitei uma dicussão. Ele acabou encolhendo os ombros e se foi.


A leveza triunfa da dureza; a fraqueza, da força. O flexível leva sempre vantagem sobre o rígido: - eis o princípio do controle das coisas pela acomodação a elas, do domínio através da adaptação.

LAO-TSU

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Belas paisagens de Tóquio...

Em uma de minhas muitas "viagens" pela NET, achei este bonito video num videolog muito interessante: http://vimeo.com/sugoi

Ofereço-o a vocês, visitantes ....



Soothing Glimpses of Tokyo from Sugoi on Vimeo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Corpo não mente





Achei este ótimo texto de Paulo Leminski , e não resisti à tentação de publicá-lo no meu blog. Aproveitem....
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"Integrar mente e corpo é voltar ao paraíso
que só conseguimos experimentar em momentos privilegiados."

Quando Francisco Xavier, o missionário jesuíta, aportou no Japão, na crista das navegações, sua catequese produziu milhares de conversões e o catolicismo começou a se espalhar pelo país. Nas cartas que escreveu para seus superiores em Roma, Xavier descreve com júbilo os progressos do apostolado na Terra do Sol Nascente. Nas mesmas cartas, porém, queixa-se contra os adeptos de urna seita chamada zen (deve ser a primeira menção ao zen na Europa).


Não consigo converter nenhum dos adeptos dessa seita, Xavier confessa.

Não mostram nenhum respeito pelas coisas sagradas, riem de tudo e debocham dos símbolos de nossa religião, prossegue.


A razão secreta do insucesso de Xavier com os praticantes do zen reside na radical diferença entre as relações corpo/mente (ou corpo/alma) no catolicismo e no zen. Todas as práticas zen (o zen é - sobretudo - uma prática) visam atingir o ponto de fusão corpo/mente, aquele lugar alfa onde essa distinção (vista como erro e ilusão) não seja mais possível. Visariam, de certa maneira, uma espiritualização de corpo e uma corporificação da mente e do espírito. Isso é muito visível nas artes marciais, judô, kendô, caratê, aikidô, todas empapadas do zen. Quem pratica artes marciais, aprende logo que o corpo não é urna máquina governada por um comandante genial chamado mente.


Na hora de aplicar um golpe, sente-se claramente que o corpo pensa. Impossível não ver os paralelos entre essa experiência e a vivência do sexo que, para ser realizado plenamente, exige um momento de fusão total entre um corpo que sente e uma mente que dirige. Não se pode obter uma ereção ou um orgasmo pensando em reforma tributária...


Ao tentar converter superiores da seita zen, com a frase básica "salve tua alma", Xavier esbarrou num obstáculo intransponível: os monges zen não podiam conceber que a alma fosse urna coisa que a gente possuísse e pudesse ter um destino distinto do corpo, suas peripécias, misérias e esplendores. A arte de um judoca ou de um carateca não é "una cosa mentale", como disse Leonardo da pintura. É essencialmente unitária, anterior ou posterior à dicotomia corpo/mente que impregna, sub-repticiamente, todo o pensamento ocidental de Descartes para cá.


As origens desse divórcio no indissociável são, claro, de natureza religiosa: a mente do racionalismo ocidental é a filha leiga da alma salvável do cristianismo. Sem direito a além-túmulo, porém. Mas não pense que coisa tão grave teve raízes apenas filosóficas na mente de algum pensador isolado.


A sociedade urbano-industrial, através dos métodos de trabalho que impôs, promove a dissociação corpo/mente mais do que qualquer tratado de metafísica. É uma força desagregadora, destribalizante, atomizante. Não há lugar para o corpo na grande fábrica, a não ser como a unidade de trabalho, nunca como lugar de prazer e satisfação sensorial.


E a alma toma os novos nomes de "habilitação profissional", "treinamento especializado", abstrações no seio dessa imensa abstração que é a anônima sociedade industrial-urbana.


Eu mando, você obedece


Escravos e senhores. Nobres e servos. Patrões e empregados. Técnicos e operários. Nada distingue mais o homem dos animais do que a divisão de trabalho, nossa grande força e também a fonte de nossas fraquezas.

Foi através da divisão do trabalho que o homem multiplicou seus poderes sobre a natureza numa velocidade fantástica: há apenas 30 mil aros tudo o que tínhamos para enfrentar a hostilidade do meio ambiente eram armas de pau, pedra e osso e vestimentas de peles de animais. Neste prazo biologicamente curtíssimo, saltamos da lança de madeira para o computador, a eletricidade, a engenharia genética e a energia nuclear. Isso só foi possível porque o homem, em todas as latitudes, especializou determinados grupos de sociedade em tarefas específicas. Qualquer tigre sabe fazer tudo o que qualquer tigre faz, e nada além disso. Todo tigre é um inteiro. Nós somos fragmentados. Uns plantam, outros vendem. Uns mandam, outros obedecem. Uns celebram cerimônias aos deuses, outros carregam pedras para erguer pirâmides, templos e catedrais.


Quem não vê que a dicotomia mente/corpo é uma projeção e uma decorrência da divisão do trabalho, a divisão interiorizada em nós? A mente é uma metáfora da classe dirigente servida pelo corpo.


A divisão do trabalho é o verdadeiro Pecado Original, aquele que nos expulsa do paraíso e nos lança na grande aventura da vida e do mundo. A serpente sugere, Eva colhe o fruto proibido, Adão o come... Integrar mente e corpo é voltar ao paraíso que só conseguimos experimentar em momentos privilegiados: às pessoas desintegradas, o paraíso também é vivido sob a forma de fragmento.


Um dos momentos mais radicais da divisão do trabalho está na separação entre trabalho braçal e intelectual. Essa divisão começa no mundo religioso. Sacerdotes e agricultores, monges e guerreiros, padres e fiéis, são o modelo remoto da atual divisão entre técnicos e teóricos diante da mão-de-obra.


E certas práticas religiosas como o jejum, a castidade, o silêncio e a busca do desconforto físico concorreram poderosamente para acelerar a cisão entre corpo e mente. Não seria exagero imaginar que a noção da "alma" tenha nascido dessas práticas onde o corpo é tratado como um inimigo, fera que deve ser domada, humilhada e reduzida a ser uma montaria dócil sob as rédeas do "Espírito".


No século passado, quando começa o mando industrial de hoje, aparece a figura do "intelectual", o homem/mente por excelência, vivendo apenas na atmosfera rarefeita do "mundo das idéias". Com o intelectual, seus afins, o técnico, o especialista, o pensador...


Entre um corpo e uma mente, mil anos-luz de vazio onde se criam monstros e demônios, duendes e neuroses.


Os demônios se chamavam Lucifer, Belzebu, Asmodeu, Belial. Hoje chamam-se neurose, paranóia, esquizofrenia, mania. É perigoso separar aquilo que, por natureza, é uno e inteiro.

De volta à unidade

O retorno ao paraíso perdido, a re-união mente e corpo não pode sequer ser sonhada, em termos integrais.
Essa estranha entidade que é o ser humano, que somos nós, resulta irremediavelmente cindida.
O próprio exercício disso que se chama "razão" parece estar ligado, carne e unha, com a dissociação entre uma metade que "pensa" e um corpo que obedece. Estamos condenados à razão.

Mas é essa mesma razão dissociativa que pode nos aproximar, por momentos iluminados, da unidade perdida, em algum ponto-anos-luz no espaço/tempo. Nós buscamos essa unidade na prática do lúdico e do erótico, na arte, no esporte, no amor e no sexo. Nessas áreas do in-utensílio, ela vida além da tirania do lucro e da utilidade. Ao brincar e jogar, estamos salvos, livres. E de volta.
Para o zen, é na própria vida cotidiana que está o segredo. E preciso resgatar a grandeza infinita dos gestos simples e "elementares". Cuidar da vida. Curtir a minúcia. Lavar a própria roupa. A louça. Arrumar a casa. Fazer sua comida. Tomar banho como quem realiza um ato sacro. Recuperar o prazer da prática dos atos primários. Saber que ser matéria, caralho e buceta, boca e estômago, é uma dignidade e um esplendor.

Dá trabalho. Mas, para brilhar, as estrelas têm que arder, até o glorioso fim.

RUMO AO SUMO

Disfarça, tem gente olhando.
Uns, olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros, olham de bando,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando,
olhando ou sendo olhado.

Outros olham para baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que dentro não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada.

(P. L.)


in Revista Corpo a Corpo, 1987, p. 97-98.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

terça-feira, 29 de julho de 2008

Sensei Shikanai em Israel

Alguns vídeos do Shihan Ichitami Shikanai em um seminário realizado este ano em Israel. Vídeos do Sensei Shikanai na net é coisa muito rara, portanto, aproveitem.....








terça-feira, 15 de julho de 2008

Segredos do Budo





Um dia, um samurai, grande Mestre de sabrequis obter o verdadeiro espírito da esgrima. Era durante a época Tokugawa. À meia noite, foi a um santuário de Kamakura, subiu os numerosos degraus que levam até lá e rendeu homenagem ao Deus local, Hachinam. Hachinam, no Japão, é um grande Bodhisattva que se tornou o protetor do Budo. O Samurai rendeu-lhe homenagem. Ao descer os degraus, a meia noite, ele sentiu, debaixo de uma grande árvore, a presença de um monstro em frente dele. Por intuição, ele desembainhou o seu sabre e num instante matou o monstro. O sangue jorrou e derramou-se pelo chão. Ele matou-o inconscientemente.

O Bodhisattva Hachinam não lhe deu o segredo do Budo. Mas graças a esta experiência, no caminho de regresso, ele compreendeu-o. A intuição e a acção devem surgir simultâneamente. Não pode haver pensamento na prática do Budo. Não há um só segundo para pensar. Quando agimos, a intensão e a ação devem ser simultâneos. Se dissermos : " O monstro está ali, como matá-lo? ", se hesitamos, só o cérebro frontal entra em ação. Ora, o cérebro Thalamus (cérebro profundo) e ação devem coincidir, no mesmo instante, idênticos.

Assim como o reflexo da Lua sobre um curso d'água, não fica imóvel, se bem que a Lua não se mexa. É a consciência Hishiryo.

texto retirado do blog: http://alexdacosta.blogspot.com/

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Origami




O incrível trabalho do origamista Hojyo Takashi!

O origami, assim como outras artes japonesas como o shodo (Caligrafia), Ikebana, Budo, etc... também é utilizado como uma forma de chegar a iluminação. Em todas estas atividades, o artista japonês procura a ligação com o divino através do processo criativo.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Fudoshin e Zanshin: Elementos Psicológicos do Budo


por Brett Denison
Tradução - Jaqueline Sá Freire (Instituto Takemussu - Hikari Dojo – Rio de Janeiro)

Fudoshin é um dos princípios do budo e se refere a um estado mental que é impenetrável e imóvel. Neste caso, “imóvel” requer algumas explicações, pois é usado no contexto filosófico japonês e assim tem um sentido mais elevado do que se esperaria ao associar ao significado da palavra em outra língua. Fudoshin não indica um estado mental inflexível, mas, sim, aponta para uma condição mental que não é facilmente transtornada por pensamentos internos ou por fatores externos. “Esta mente que permanece não agitada e calma é imperturbável, não apegada e livre... é a mente máxima do mestre, adquirida apenas através de rigoroso treinamento, e igualmente rigorosa investigação da mente e pelo forjar do espírito (seishin tanren, em japonês) através da confrontação e vitória sobre nossos próprios medos e fraquezas” Fudoshin é diretamente relacionado com outro conceito Japonês conhecido como zanshin, ou "mente continua".

O Zanshin se refere a um estado de constante e contínua atenção ou estado de alerta. O Zanshin se aplica a sua atenção ao mundo à sua volta. Você percebe as pessoas à sua volta, como elas se movem, como ficam de pé, o que há em seus olhos, porque você precisa estar preparado para interagir com elas. Você está presente neste momento. Uma grande parte do reigi, ou "métodos de respeito" no budo, particularmente as reverências (de pé e na posição sentada) e outras formas de etiqueta foram criadas com o zanshin em mente. Em um contexto marcial, imobilidade e continuidade se referem a um estado de alerta mental em que a mente não está fixada em coisa alguma. Como a mente é receptiva e atenta, mesmo que não fixada conscientemente em alguma coisa em particular, não existem pontos fracos mentais ou suki ("brechas"). Os conceitos espirituais japoneses podem ser um “quebra-cabeças” e normalmente são conectados como parte de vários conceitos. Por isso, explicarei mais detalhadamente.

Se eu tenho tres objetos na minha frente e enfoco minha atenção em só um, minha concentração estará afastada dos outros dois. E assim, em relação aos outros dois objetos, eu criei um suki, ou uma ausência de foco. Se qualquer um destes objetos fosse um atacante, eu estaria completamente vulnerável. Mas se você disser, ok, tudo o que temos que fazer é focalizar todos eles, você estaria parcialmente certo. Mas, como com tudo o que é japonês, não é tão simples. O segredo escondido é que devemos focalizar todos eles sem focalizar nenhum deles. Às vezes isso é chamado de mushin, ou "não mente". Este conceito, que sustenta o do fudoshin, pode ser difícil de ser compreendido por ocidentais. A “não mente” se refere a um foco que é mais intuitivo que consciente. Isso significa confiar em seus instintos mais do que se empenhar em um processo consciente de pensamento. Os ocidentais podem chamar isso de “estar na área”. Os japoneses podem chamar isso de “estar no momento presente”.

No budo, criar este estado de confiança intuitiva e maturidade interior requer muitos anos de prática (keiko), em alguns casos a prática de exercícios de respiração meditativa (kokyu ho) e disciplina austera física/espiritual (shugyo). Todos estes elementos, que são parte do budo, lentamente afastam a mente do diálogo mental interno e das censuras (de análise e justificação) e começam a permitir a mente que confie em seus sinais intuitivos ou em sua natureza superior. Em mushin, a mente deixa de ser facilmente perturbada ou reativa em excesso. Ela é fudo ("imóvel") e não são criados suki ("brechas") ou quebras do foco. Este estado é muito claro ao se observar um experiente budoka praticando um kata. Apesar de estar totalmente atento à forma, ele não opera a partir de um processo consciente de pensamento. O kata foi praticado milhares de vezes, e o praticante desenvolveu uma confiança natural em sua habilidade. De certa forma, não há nada para se pensar. Talvez seja um tanto como o slogan da Nike: "Just Do It" (“apenas faça”).

Em resumo, a mente, não estando presa a coisa nenhuma, é forte, concentrada e receptiva a todas as coisas. Certamente Fudoshin não existe somente para as artes marciais. Pelo contrário, esta confiança e calma intuitivas podem ser usadas antes e durante uma reunião importante, em uma entrevista, uma prova, ou em qualquer circunstância em se seja necessária calma e um foco intensificado. Com uma prática consistente e disciplinada, o fudoshin pode se tornar um estado mental natural, confortável e produtivo.

artigo retirado do site htt://www.aikikai.org.br

terça-feira, 8 de julho de 2008

Irimi





Mais do que uma técnica, Irimi é uma postura. O Kanji que o representa significa " Entrar com seu corpo dentro do corpo do adversário".

Meu Sensei Nelson costuma treinar esta entrada, mas sempre enfatiza a postura, mais do que a forma. Ele diz: "O importante é a postura, entrar com decisão, como num duelo real, em que sua vida é decidida em um só lance...". a forma também é importante, mas tenho notado que sua maior preocupação é na postura, ou seja, entrar com decisão. Isto porquê sem a postura, sem o ki apropriado, qualquer forma perde seu sentido.

De fato, este treinamento reflete na nossa vida pessoal. quantas vezes temos que tomar decisões? e como fazemos isso? que postura adotamos? Irimi é entrar com decisão, é se fazer presente, presente na sua vida profissional, na sua vida pessoal. É a postura de enfrentar seus problemas de frente, com decisão e fé! É também enfrentar a si mesmo, com coragem e determinação, porquê nosso maior adversário não está lá fora, mas aqui dentro de nós!

Mais uma vez percebo que, mais do que uma arte marcial, o Aikido é para mim uma filosofia de vida!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Os princípios do Kokyu ryoku - o poder da respiração

Por Gozo Shioda


"Eu disse anteriormente que o poder de foco e concentração determina a maneira pela qual usamos nossa força. Fundamentais para isto são o coração ou espírito, e o ritmo.

Todos estes fatores juntos formam o kokyu ryoku. Por coração, ou espírito, eu quero dizer a habilidade de entrar em um estado de esvaziamento. Este é o poder de concentrar nossos sentimentos, cujo impacto é muito forte. Nós freqüentemente pensamos em fazer alguma coisa desta ou daquela maneira, pois os seres humanos se encontram presos a planos - nós gostamos de planejar e de lembrar das coisas. No budô, é necessário eliminar planos e memórias ,e, ao contrário, nos colocarmos em um estado de esvaziamento. Neste estado todo medo desaparece, a, ansiedade é removida, e nós começamos a realmente perceber nossas habilidades, ganhando cada vez mais confiança em nós mesmos. Resumidamente, este é um estado mental muito sereno.

Neste estágio, nós podemos ler as intenções de nosso oponente, não com nossa cabeça, mas com nosso corpo. Nós podemos sentir como nosso oponente irá atacar. Em outras palavras, nós começamos a nos mover e sentir com o coração.

Outra faceta muito importante do kokyu ryoku é o ritmo. Nós devemos desenvolver o ritmo onkyu (lento e rápido). Por ritmo eu não quero dizer um movimento uniforme e monótono. Ao contrário, o ritmo de nossos movimentos deve se adaptar a uma dada situação. Essencialmente, é nossa respiração que controla nosso ritmo, inspirando ou expirando de acordo com a situação. Quando é necessário inspirar, nós inspiramos. Quando nós devemos expirar, nós expiramos. É isto que regula o ritmo de nossos movimentos. O ritmo é resultado da respiração. Quando o ritmo e a respiração se fundem, nós devemos adicionar shuchu ryoku (o poder da concentração). O verdadeiro kokyu ryoku é atingido quando estes três fatores se unem de maneira a formar uma coisa só. Quando isto acontece, nosso oponente perde a capacidade de resistir e torna-se completamente dependente de nós.

É essencial notar que nós não temos nenhuma intenção especial de fazer o oponente agir desta maneira - isto apenas acontece. Induzir o oponente a um tal estado onde ele se sente compelido a cooperar contrariando seus desejos, sem que ele se aperceba deste estado, é o princípio do kokyu ryoku.

Devemos dizer também que é preciso que nos tornemos inconscientes da existência do oponente para que sejamos capazes de atingir o kokyu ryoku.

O kokyu ryoku não é relacionado a qualquer conjunto de formas. Antigamente, Sensei Ueshiba nunca ensinava em detalhes. O que fosse que nós fizessemos, ele apenas dizia "está bom, está bom". Desta forma, ele nos encorajava a evitarmos de sermos aprisionados pelas formas. O que é importante é nos colocarmos na melhor situação para nós mesmos. Mas mesmo que eu diga isto, eu sei que encontrar a melhor situação é algumas vezes algo muito difícil de ser feito.

O kokyuryoku se origina no esvaziamento. O kokyu ryoku não é algo que descobrimos através de algum treinamento ou exercício especial. A repetição diária das técnicas do Aikido forma a base para atingir-se o kokyu ryoku. Apenas após um treinamento uniforme, dia após dia, você poderá, com sorte, atingir o shingitai, quando o coração, a mente, o corpo e a técnica tornam-se uma coisa só, tornando o kokyu ryoku possível.

Ao invés de dizer que atingimos este estado, é melhor entender que um dia, sem sabermos quando, estaremos usando o kokyu ryoku. Isto pode acontecer inesperadamente, por exemplo, se estivermos diante de uma situação de vida ou morte. Em tal situação, a necessidade urgente de uma reação adequada pode servir como catalisador para o surgimento do kokyu ryoku. Repentinamente algo irá acontecer, e antes que tomemos consciência do que está acontecendo, o oponente estará no chão. Eu constantemente fico surpreso por não entender o que está acontecendo nestes momentos. Mesmo pensando cuidadosamente, eu não consigo definir claramente o que ocorre quando eu estou tomado pelo kokyu ryoku. Isto é o kokyu ryoku. Não é algo que possamos atingir quando quisermos. Na verdade, se estivermos pensando nisto, simplesmente não irá funcionar. Tudo deve ocorrer de forma natural. Qualquer idéia de atingir este estado nos prende a planos que serão de pouca ajuda para atingirmos o kokyu ryoku, e este é um fato que não é fácil de aceitarmos.

Mesmo que tenhamos atingido o kokyu ryoku uma vez, isto não significa que possamos atingi-lo novamente de maneira direta. De fato, tal idéia de repetição irá nos impedir de atingi-lo, e somente eliminando qualquer esforço consciente é que poderemos alcançá-lo novamente. Conforme acumulemos tempo de treinamento, isto nos levará a cruzar a fronteira.

Desta forma, um dia, nós nos tornaremos mestres do kokyu ryoku. É difícil descrever, mas neste exato momento surge uma sensação de êxtase, de imenso prazer, um conjunto de sensações que juntos formam uma experiência maravilhosa.

Esta experiência acontecerá de forma breve e inesperada, proporcionando uma inexplicada sensação de poder e conforto.

Eu acredito que não é possível experimentar este tipo de emoção através de atividades normais da nossa vida. Naquele momento eu posso dizer que perde-se o ego. Freqüentemente no dojo, durante as aulas especiais para alunos avançados, quando eu demonstro algo, eu me encontro em um estado de completo esvaziamento: nada existe naquele momento. Eu não possuo nenhuma intenção de resistir ao meu parceiro, na verdade eu perco a consciência de mim e do meu parceiro e nós nos tornamos um só.

É por isto que quando eu movo minha mão em uma direção, meu parceiro segue meu movimento. Se eu repentinamente mudar a direção, meu parceiro também mudará, todos se movem comigo. Como isto é possível? Eu não sei, mas se podemos atingir o verdadeiro esvaziamento, podemos fazer o impossível.

Isto é algo que eu não posso ensinar, mesmo se me perguntarem. Esta é uma sensação que devemos capturar para nós. Muitas pessoas estudam intensamente diversas técnicas de Aikido, e é muito triste que fiquem presas em um estado de pesquisa e não evoluam mais.

Muitas vezes acontece que por mais esforço que coloquemos em nossa pesquisa, não chegamos a uma conclusão. Nossos pensamentos permanecem turvos. Mesmo quando temos a intuição correta, nós perdemos nossa pureza quando adicionamos nosso pensamento.

O maior de todos os objetivos é aquele que vem de dentro de nós. Desta maneira é muito importante aprender a sentir com nossa pele e nosso corpo. "Torne-se um com a natureza", diria Ueshiba Sensei, e apenas recentemente eu comecei a entender o que ele queria dizer sobre Deus, o Universo, e muitas outras coisas incompreensíveis. Minimamente, agora eu possuo uma noção do que ele dizia."


Gozo Shioda, fundador do estilo de aikido Yoshinkan, começou a treinar em 1932, aos 17 anos. Foi um dos discípulos mais antigos de O´Sensei.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Sensei Shikanai e José Magal numa demonstração de IAIDO




SENSEI ICHITAMI SHIKANAI

Ichitami Shikanai é japonês de Aomori, nascido em 31/07/1947. Estudou economia na Universidade Meiji (Tóquio, Japão). Chegou ao Brasil em 1975 na delegação do professor Yasuo Kobayashi, seu professor. Possui graduações em Aikidô (faixa preta 7º dan, shihan), Jôdô (faixa preta, 2º dan) e Iaidô (faixa preta 2º dan). Reside em Belo Horizonte, dedicando-se ao ensino dessas artes. Lecionou na Polícia Militar de Belo Horizonte, na cadeira de ataque e defesa, como instrutor de bastão. É o supervisor responsável pelo Aikidô em Barra Mansa, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Natal, Niterói, Rio de Janeiro, e Jerusalem (Israel). Fundou e administra o Nakatani Dôjô, na Savassi, em Belo Horizonte/MG.

Texto extraído do site Aizen Dojo

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Aiki...


"...Ninguém precisa ter prédios,
dinheiro, poder ou status
para praticar a Arte da Paz.
O paraíso é exatamente
onde você está
e esse é o lugar para treinar."

"...Todas as coisas, materiais e espirituais,
vem de uma mesma fonte
e estão ligadas como uma família.
O passado, o presente e o futuro
estão dentro da força vital.
O universo surgiu e se desenvolveu
de uma única força
e nós crescemos através
de um processo maravilhoso
de unificação e harmonização. "

"...Há maldade e desordem no mundo
porque as pessoas se esqueceram
de que todas as coisas
vieram de uma única força.
Voltemos para essa fonte,
deixando para trás
todo pensamento egoísta,
desejos mesquinhos e raiva.
Aqueles que não possuem nada
possuem tudo. "

"...Se você não tem nadaque o ligueao verdadeiro
desprendimento
você nunca entenderáa Arte da Paz."

"...Vida é crescimento.
Se pararmos de crescer,
tecnicamente e espiritualmente, melhor morrer. "


Morihei Ueshiba


sexta-feira, 20 de junho de 2008

Aikido e o Controle Remoto



texto retirado de um artigo do sensei Wagner Bulll:


"Semana passada eu estava assistindo televisão confortavelmente deitado no sofá, quando decidi mudar de canal. Peguei o controle remoto e acionei o botão. Ao ver a nova imagem na tela percebi em minha mente a grandiosidade deste invento. Eu havia ficado praticamente imóvel, entre eu e o aparelho de televisão não havia nada visível, e à distância, sem toca-lo eu consegui comandar o mesmo. Este momento me fez ter um "insight" que quero agora relatar aos leitores: Se formos estudar eletrônica, aprenderemos que na verdade houve uma conexão entre eu e o aparelho no momento em que mudei o canal, pois o dispositivo de controle remoto provoca ondas eletromagnéticas que vão de minha mão atravessam o espaço que me separa do aparelho de televisão e acabam construindo um verdadeiro "braço" de energia que me permite "tocar" o aparelho e alterar seu funcionamento. Bem no fundo, houve o contato entre eu e o aparelho, a diferença é que ele foi invisível, através de onda, mas nem por isto real!

As filosofias e religiões orientais freqüentemente falam da "Sabedoria do Universo", no Aikido se diz do poder de "Daishizen" e de "Shizen Tota", da necessidade de adaptação a seus princípios e leis para que tenhamos uma vida saudável, alegre e provícua. O ser humano como todos os demais seres e coisas que vemos estão inseridos dentro do universo e seu grande espírito, que, como uma grande aparelho de controle remoto automaticamente está conectado com tudo e com todos e vai transmitindo a todos os instantes comandos para que, diante das circunstâncias que ocorrem em nosso dia a dia, possamos tomar decisões corretas e sábias. Na verdade, queiramos ou não todos os nossos órgãos são vivificados pelo "KI" (força vital), do Universo. Basta o homem captar estes comandos para que seu organismo funcione corretamente e a sabedoria de suas ações passem a ser abundantes.


E porque então temos problemas, infelicidades e doenças? A resposta é porque temos em nosso cérebro uma parte que chamamos de mente consciente e que permite que tomemos decisões contrariamente às ordens que recebemos de nosso "Grande Aparelho de Controle Remoto Universal". Uma parte de nós inconsciente está em perfeita sintonia com as leis do Universo, por exemplo: o coração bate normalmente, os cabelos e as células se multiplicam em nosso corpo sem nossa interferência, mas a respiração que pode ser consciente ou inconsciente, e nossos movimentos dos grandes músculos podem ser comandados por nossa mente consciente, e que nem sempre está em acordância com as Grandes Leis Universais. Mesmo que alguém esteja vivendo uma vida bem junto à Natureza em uma fazenda, por exemplo, comendo coisas somente naturais, mas se estiver emitindo vibrações de ciúme, inveja, tristeza, raiva, ou de excessos em seus desejos, este fato interferirá em sua sintonia com os comandos de "KI" (energia), "remotos", que lhe são enviados pelo Universo.


Por esta razão é fundamental que nós seres humanos, passemos a agir como os demais seres vivos que não usam tanto a consciência para desobedecer às leis e comandos universais, procurando sempre harmonizar com as forças ativas e passivas (Yin e Yo), cultivando o centro e permitindo a alternância entre as energias centrífugas e centrípetas que formam o "Kokyu" (respiração), individual, e este, entre em ressonância com a da Criação. Assim necessitamos saber quando devemos ser ativos e trabalhar, executar as tarefas, e também passivos, e quando ter o devido repouso. Saber quando dar, produzindo, trabalhando, e quando receber, seja através de presentes, ofertas, ou mesmo ganhando nosso salário ou tendo nossas faturas contra terceiros a quem prestamos serviços devidamente pagas. Aqueles que não conseguirem entrar em harmonia, em ressonância com a sabedoria e com os comandos do Universo, no decorrer de sua vida não saberão como agir corretamente nas hora da tomada de decisões e acabarão tomando medidas erradas, resultando em um grande fracasso, e suas vidas sofrerão algum grave revés, seja físico, emocional, mental, moral ou financeiro.


A prática do Aikido (Ai-Harmonia, KI- Energia do Universo, e DO- Sabedoria do Universo), tem por objetivo desenvolver a sensibilidade do ser humano para mais facilmente receber os "comandos remotos" invisíveis da Grande Natureza e assim poder viver de acordo com seus desígneos tendo uma existência completa e portanto mais feliz!"


muito bom!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Os Caminhos


O Aikido, assim como o Tantra e outras práticas religiosas, visa a evolução espiritual através da prática, da ação. Tenho uma formação espírita, além da formação católica que todo brasileiro que se preze é iniciado (batismo, catecismo, missas aos domingos, etc...). Mas confesso que faz muito tempo que não vou á Igreja.


Na verdade, as religiões estão, ao meu ver, se convergindo, junto com a ciência, para uma mesma verdade. Não importa os dogmas e as crenças de diferentes tradições religiosas, todas elas caminham para a mesma conclusão, a integração com o divino. Seja este divino representado por Deuses, por um Deus, pela Natureza, ou pelo universo autoconsciente que alguns cientistas quânticos estão afirmando ultimamente.
Eu particularmente acredito numa consciência superior capaz de reger todo o universo (seja lá qual for o nome que você dê para ela) e que todos nós temos uma relação íntima com esta força cósmica. Estou mais para o conceito taoísta e budista de que todos temos um "Eu Superior", e que o nosso objetivo final é transcender a nossa consciência para esta.

Como um bom espírita, acredito na evolução espiritual e moral para chegar a este fim (o que requer muitas e muitas reeencarnações), outras tradições utilizam a meditação para este fim. Morihei acreditava que o Aikido era o seu caminho para esta consciência divina. Por isso alguns Mestres japoneses preferem transmitir seus conhecimentos através da ação, do que usar as palavras. Percorrer o caminho, para eles, parece mais importante do que entendê-lo.

Infelizmente para nós ocidentais, com nossa formação cartesiana, o entendimento é tão indispensável. Mas não importa o caminho que você percorra, todos caminhamos para este fim.

Morihei Ueshiba dizia:


"Todos possuem um espírito que pode ser aprimorado

Um corpo que pode ser de alguma forma treinado e um

determinado caminho a ser seguido. Você está aqui para

o único propósito de conhecer sua divindade interior e

manifestar sua iluminação inata."

quarta-feira, 28 de maio de 2008

ki aikido...

um interesante video produzido por um estudante da Universidade de Washington para Koichi Kashiwaya Sensei da Ki Society em meados da década de 70. Ele transmite através de imagem, som e técnica toda essência do Aikido.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Fé...





"... O que se conserva no caminho com energia é dotado de vontade..."


Parece simples, mas na prática é um pouco complexo! Nossa criação judaico-cristã nos ensina muito bem o que é a fé, e o que ela significa na nossa vida, mas o fato é que ter fé na vida, em si mesmo, e em Deus, nem sempre é tão fácil quanto se deseja. É claro que a fé nos ajuda em tudo na vida. Acreditar, reunir toda a sua energia num empreendimento exige fé, obstinação! Quem nunca leu o bestseller "O segredo" (eu por exemplo!), que fala da importância do pensamento positivo através da "Lei da atração".




Na década de oitenta, a rede de televisão inglesa BBC exibiu uma série de documentários sobre artes marcias chamada "The Way of The Warrior" (O Caminho do Guerreiro). Desta série surgiu o livro com o mesmo nome, já que o material de pesquisa era farto e os documentários não esgotaram o assunto. Neste livro podemos encontrar uma estória contada por um Mestre de artes marciais que descreve muito bem a importância da fé na nossa capacidade de realização:




"...Ao determinar a estratégia marcial, é essencial que você tenha uma confiança inabalável na sua própria capacidade. Deve ter uma convicção capaz de romper qualquer barreira, transpor qualquer obstáculo. Para ilustrar esse ponto, temos a antiga história de um casal de namorados. a jovem foi atacada por um tigre assassino e ficou gravemente ferida. Por mais que o namorado tentasse curá-la, nada havia que ele pudesse fazer, e ela morreu. Fora morta pelo tigre; e, das profundezas do seu próprio sofrimento, o namorado determinou-se a vingar-se do tigre por ter matado a sua amada.




Tomou seu arco e suas flechas e, todos os dias, entrava nas matas em busca do tigre. Por fim, certo dia, viu a distância a forma de um tigre adormecido e percebeu de imediato que aquele era o tigre que matara sua namorada. Esticou o arco, mirou cuidadosamente e desferiu a flechada. A flecha perfurou profundamente o (suposto) corpo do tigre e o jovem correu adiante para confirmar que ele estava morto. Quando chegou lá, porém, percebeu que sua flecha havia perfurado uma pedra listrada semelhante à forma de um tigre adormecido.




Depois disso, a reputação do jovem no povoado em que vivia cresceu, pois todos começaram a comentar sobre o quanto ele era forte, capaz de perfurar uma pedra com uma flechada. Os outros queriam ver se ele era capaz de fazê-lo de novo. Mas, por mais que ele tentasse, as flechas batiam na pedra e caíam. Percebeu ele que isso acontecia porque estava tentando somente cravar uma flecha numa pedra. Antes, quando pensara que a pedra era o tigre, a determinação de vingar sua amada possibilitara que ele perfurasse até mesmo uma pedra com sua flecha. Essa história deu origem ao ditado japonês: 'Uma vontade forte pode furar uma pedra.'




O homem de estratégia tem de ter uma tal vontade forte, uma tal convicção inabalável, pois é nessa espécie de crença ou fé que uma força incrivelmente poderosa se manifesta. Sem esse tipo de convicção, até mesmo os mais nobres esforços se perdem.




Isso vale, evidentemente, não só para a estratégia marcial, mas para todos os aspectos da vida..."

Tao II



O que conhece os outros é sábio;

O que conhece a si mesmo é iluminado;

O que vence os outros é forte;

O que vence a si mesmo é poderoso.

O que conhece o contentamento é rico.

O que se conserva no caminho com energia é dotado de vontade.

O que não se desvia do lugar que lhe cabe é dotado de perseverança.

O que morre, mas não perece, alcançou a longevidade.


Tao te Ching, de Lao Tzu

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Surfando pessoas....



Uma vez eu li um artigo na internet, onde um faixa preta de aikido e surfista amador comparava as duas práticas. Ele dizia que antes epgava ondas e agora "surfava pessoas..."

Como tudo que eu leio, fiquei meditando sobre aquele conceito. Nunca peguei onda, mas imagino a intensidade da interação com a natureza que deve ser deslizar numa onda....Você não vai contra a maré, você não vence a onda, desliza nela.

Um surfista experiente deve chegar ao ponto de se integrar com a onda como se fossem uma só coisa! de fato, ele não está preocupado com a forma, com a técnica, simplesmente se permite fluir através da onda. aquele momento mágico em que a nossa mente sai do limite do nosso corpo e interage com o cosmos.

O aikido parece ser assim. A busca do Aiki é tentar interagir com o openente como o surfista com a onda. O Aikidoca não vai de encontro ao golpe do atacante, ele deixa o ataque fluir e direciona o oponente. ele busca esta interação, como o surfista com a onda, a ponto de poder sentir o movimento do oponente. Quando chega neste ponto, ocorre o Aiki.

O que os praticantes de aikido buscam no seu treinamento é este sentimento, que vai além da interação com o oponente. ele busca esta unidade com o cosmos...mas acredito que é preciso muitos anos de treinamento para se alcançar este nível. no início, a forma é importante. acredito que vai chegar a hora em que a forma deixa de ser consciente e a interação aconteça. o Universo te diz como agir, e é aí que reside a eficiência do Aikido como arte marcial. no entanto, chegar neste nível é mais difícil do que parece...

Como sou apenas um iniciante, continuo buscando o Aiki. Como diz o ditado, o importante é o caminho...e eu continuo caminhando!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

TAO


Quem respira apressado não dura
Quem alarga os passos não caminha
Quem vê por si não se ilumina
Quem aprova por si não resplandece
Quem se auto-enriquece não cria a obra
Quem se exalta não cresce
Esses, para o Caminho, são como os restos de alimento de uma oferenda
Coisas desprezadas por todos
Por isso, quem possui o Caminho não atua desse modo

tao te ching

terça-feira, 29 de abril de 2008

O Real Valor de uma Faixa Preta...


por Reverendo Kensho Furuya Padrão de Treinamento
O primeiro nível de faixa preta é chamado em japonês de shodan, palavra que significa literalmente "primeiro nível". O ideógrafo para Sho (primeiro) é muito interessante. Ele é formado de dois radicais que significam "roupa" e "faca". Para fazer uma peça de vestuário é preciso primeiro cortar o molde no tecido. O padrão determina o estilo e aparência do produto final. Se o padrão está fora de proporções ou contém erros, as roupas terão má aparência e não vestirão bem. Do mesmo modo, seu treinamento inicial para atingir a faixa preta é muito importante; ele determina como você se desenvolverá como faixa preta.

Em meus muitos anos de ensino, tenho notado que os estudantes que estão unicamente preocupados em obter uma faixa preta se desencorajam facilmente, tão logo eles percebem que é mais difícil obtê-la do que imaginavam. Estudantes que vêm apenas pela prática, sem preocupação com graduações ou promoções, sempre seguem bem. Eles não são abatidos por objetivos irrealistas ou sem profundidade.

Existe uma famosa estória sobre Yagyu Matajuro, que foi um filho da famosa família Yagyu de espadachins do Japão feudal, no século XVII. Ele foi expulso de casa por sua falta de talento e potencial, e tornou-se discípulo do mestre espadachim Tsukahara Bokuden, com a esperança de atingir a maestria na espada e reaver sua posição no clã Yagyu. Em sua entrevista inicial, Matajuro perguntou a Bokuden, "Quanto tempo levará para que eu me torne um mestre na espada?" Bokuden respondeu, "Oh, cerca de cinco anos se você treinar com afinco." "Se eu treinar duas vezes mais duro, quanto tempo levará?" tornou Matajuro. "Nesse caso, dez anos", respondeu Bokuden.

Encontrando um Foco

O que você deve focar, se você não está concentrado em obter sua faixa preta? É mais fácil dizer que fazer, mas você deve focar sua energia na prática. Porém, pensar, "Eu vou me concentrar em meu treinamento para obter uma faixa preta", é simplesmente brincar com jogos mentais que ao final conduzirão você ao desapontamento.

Você pode pensar simplesmente "Vou esquecer as graduações completamente"? Você pode dizer simplesmente a si mesmo que nunca irá atingi-las? Você sempre estará ligado à sua faixa preta, permitindo a essa idéia persistir em sua mente? Em outras palavras, você pode simplesmente concentrar-se em seu treinamento sem preocupar-se com nada mais? Pode você finalmente perceber que uma faixa preta é nada mais que "algo para segurar suas calças"?

Você deve perceber também que embora você domine todos os pré-requisitos, o número correto de técnicas, todas as formas requeridas, e tenha o número apropriado de horas de treinamento, você pode não se qualificar para a faixa preta. Alcançar faixa preta não é uma questão quantitativa que pode ser medida ou pesada. Sua faixa preta tem a ver com você como pessoa. Como você se conduz dentro e fora do dojo, sua atitude com seu professor e seus colegas estudantes, seus objetivos na vida, como você enfrenta os obstáculos que lhe aparecem, e como você persevera em seu treinamento, são todas importantes condições para a faixa preta. Ao mesmo tempo, você se torna um modelo para outros estudantes e eventualmente atinge o status de professor ou instrutor assistente.

Alcançando o Foco no Treinamento

Como nos mantermos focados em nosso treinamento? Treinar com êxito significa, em grande medida, que nós observamos nossos atos de um modo racional e realista. Freqüentemente não estamos contemplando objetivos realistas, mas sonhos e ilusões. Você quer praticar artes marciais como um caminho para melhorar a si próprio e a sua vida, ou você está motivado pelo último filme de ação? Sua prática é motivada pelo desejo de iluminar-se, ou para imitar os atores de filmes marciais? ... Essas pessoas são quem são por seus próprios esforços. Você é você mesmo. Todos nós temos nossos heróis, nossos modelos e sonhos, mas temos de separar fantasia de realidade se nosso treinamento deve ser significativo e bem-sucedido.

Atingindo a Faixa Preta

Pense sobre perder a faixa preta, e não em ganhá-la. Sawaki Kodo, um mestre Zen, freqüentemente dizia, "Ganhar é sofrimento; perder é iluminação." Se alguém perguntar a diferença entre praticantes de hoje e do passado, eu responderia que os praticantes do passado viam o treinamento como "perda". Eles abandonavam tudo por sua arte e sua prática. Famílias, trabalho, segurança, fama, dinheiro, para desenvolverem-se a si próprios. Hoje, eles apenas pensam em ganhar. "Eu quero isto, eu quero aquilo." Nós queremos praticar artes marciais, mas também queremos dinheiro, fama, telefones celulares e tudo que qualquer um possa ter.

Quando o estudante olha seu treinamento do ponto de vista da perda em vez do ganho, ele se aproxima do espírito da maestria, e verdadeiramente torna-se valoroso como faixa preta. Só quando você finalmente desiste de seus pensamentos sobre exames e faixas, troféus, fama, dinheiro e a própria maestria na arte, você alcança que o mais importante é sua prática. Seja humilde, seja gentil, Cuide dos outros e ponha a todos adiante de você. Estudar arte marcial é estudar você mesmo – seu verdadeiro Eu. Isto nada tem a ver com graduações.

Um grande mestre Zen disse uma vez: "Estudar o Eu é esquecer o Eu. Esquecer o Eu é compreender todas as coisas."
texto e imagem retirados do site: http://www.tomodachidojo.com.br/

HAKAMA


"...Quantas vezes você, praticante de aikidô, principalmente yudansha, já ouviu alguém dizer: "Bonita essa 'saia' que vocês usam..."? Há quem diga que o Hakama é uma calça, mas na verdade é uma saia dividida em duas partes. Ele surgiu nos tempos dos samurais que utilizavam-no para esconder as proteções baixas, um tipo de armadura para as pernas. Isso explica o volume exagerado da peça, que deveria ser grande o bastante para acomodar as proteções e ainda garantir um mínimo de mobilidade ao guerreiro. Usada inicialmente pelos cavaleiros, continuou como símbolo de distinção mesmo depois que os samurais eram vistos apenas caminhando a pé. Hoje o Hakama não carrega um sentido prático em sua utilização, mas sim indica que seu portador é um dedicado praticante de artes marciais, preocupado com a manutenção do real sentido do Budô. Simboliza, acima de tudo, a honra do yudansha (aluno avançado).As dobras, ou vincos, do Hakama são uma característica visual marcante. São ao todo 5 dobras externas e 2 internas, cada uma delas com seu significado.


1. Yuki - coragem, bravura

2. Jin - benevolência

3. Gi - justiça, integridade

4. Rei - etiqueta, cortesia

5. Makoto - sinceridade, honestidade

6. Chugi - lealdade, devoção

7. Meiyo - honra, prestigio


É interessante notar a proximidade dessas virtudes aos temas encontrados no Budô e no código dos Samurais. Destaque para a lealdade, a devoção e a coragem.O uso do Hakama no Aikido nos remete aos temos de O-Sensei, que disse uma vez: "O Hakama nos faz refletir sobre a verdadeira natureza do bushido (código dos samurais). Vesti-lo simboliza que as tradições foram passadas de geração para geração. O Aikido nasceu do espírito do bushido japonês, e através de sua prática devemos aprimorar as virtudes dos sete significados." Dai a importância de conhecermos estes significados. Aliás, isso que me motivou a escrever este texto.Hoje a maioria dos grupos de Aikido restringe o uso (e a honra) do Hakama apenas aos faixas-pretas, como um símbolo de sua dedicação à arte marcial. As mulheres normalmente começam a utilizá-lo um pouco antes do que os homens como gesto de preservação da imagem, já que o popular 'kimono', ou 'dogi', é uma peça íntima.Um cuidado importante: o Hakama deve ser dobrado corretamente ao final de cada treino para que se preservem as dobras, e com elas suas virtudes. A pressa do dia-a-dia leva muitos alunos a não dobrarem seus Hakamas, um grande erro. É comum aproveitar o tempo dobrando o Hakama para conversar com os senseis e outros yudanshas sobre assuntos do Dojô, portanto, aproveite esse momento!Por fim, uma curiosidade sobre o Hakama. Nos tempos de O-Sensei muitos alunos não dispunham de meios financeiros para comprar Hakamas novos, então acabavam fazendo eles próprios seus a partir de capas de futons usados (material bem resistente na época). O-Sensei cortou logo o 'barato' quando percebeu que alguns alunos tinham Hakamas em cores não muito usuais, como verde e vermelho, quando o normal seria preto, cinza escuro ou azul. A bronca do mestre os forçou a aprender como se tinge um Hakama de outra cor. "

texto retirado do site: http://www.tomodachidojo.com.br/


segunda-feira, 14 de abril de 2008

"Get starting...."


Quando comecei a praticar aikido, minha mente ocidental tentou assimilar tudo que podia sobre a arte, e comecei a ler vários livros e artigos sobre o assunto. Até que um dia li um pequeno livro a muito publicado, chamado O espírito do Aikido, de Kisshomaru Ueshiba, o primeiro Doshu e filho de O´Sensei, o fundador do Aikido. Como eu já tinha algum conhecimento da filosofia oriental, não foi difícil entender alguns conceitos chave como ki e tao, mas com o passar da leitura fui percebendo uma grande verdade que ia ficando cada vez mais nítida: só existe uma forma de entender a essência do Aikido...praticando!

O Aikido por si só já é uma prática! Seus benefícios são sentidos e não necessariamente precisam ser racionalizados! Isto é muito difícil para nós ocidentais, acostumados à forma cartesiana de ver as coisas....muitas obras brilhantes procuraram traduzir a essência do Aikido para nossa forma ocidental de entender , as acredito que, embora tenham tido muito êxito, alguma coisa fica perdida pelo caminho....

Então tentei ver o Aikido sob a ótica oriental, e comecei a praticar estqa arte marcial aqui no Rio de Janeiro. Procurei um dos grupos mais tradicionais da arte, a associação Aikido Rio de Janeiro (ARJ), representande carioca do grupo Shikanai, 7° Dan pela aikikai.

Sou apenas um kyu (iniciante), um novato engatinhando, e espero ainda amadurecer muito a minha visão sobre esta belíssima arte a cada prática. Este blog é a maneira que eu tenho de compartilhar minhas descobertas com outros companheiros, que como eu, estão iniciando nesta filosofia de vida que é o aikido. Por isso conto com a participação de todos aqueles que desejarem um espaço para difundir seus conhecimentos, e suas dúvidas a respeito de tudo que possa beneficiar um iniciante em aikido.

Obrigado a todos!